Publicado em: 12/04/2024 16:40:10
Uma historinha para um dia de chuva…
Por Josué da Costa Silva
Isto aconteceu num tempo muito, muito distante... Tão distante que a fantasia, o sonho e a realidade já se juntou em uma coisa só. Janeiro era tempo de férias da escola Estudo & Trabalho. Eu aproveitava para ir para o sítio que meu pai tinha na BR 364 sentido acre, quilometro 175, quinze quilômetros antes de chegar a Abunã.
Eu não devia ter quinze anos, mas era o responsável (e talvez eu pedisse) de levar o "rancho" para meu pai. Janeiro é tempo chuvoso, igarapés que passeiam na estrada, tempo de atoleiros. Janeiro é o auge da temporada de chuva.
Não se sabia o tempo que levaria para percorrer os 175 quilômetros. Dez horas... Um dia... Quem mandava eram os atoleiros...
O ônibus ia atolar é isso eu já sabia. As vezes eu saia do ônibus e pegava carona em caminhões e na chuva, ia na carroceria com o preciso rancho. Os pingos fortes da chuva ardiam no rosto, olhos semicerrados. Mas eu em pé, segurando forte em busca de equilíbrio, queria ver tudo, não importa o tempo nem os atoleiros, eu sempre chegava...
Eu desembarcava minha bagagem, pulava do caminhão, agradecido, desejava boa viagem ao caminhoneiro. Deixava na beira da estrada o rancho e ia procurar meu pai no roçado...
"Êêêê meu pai..."
Seguia gritando de vez em quando na mata. Ao longe ouvia seu assovio. Pronto... Ele ia me encontrar!
Eu nem imaginava que a viagem pudesse ter sido difícil ou até perigosa. Já me bastava o sorriso de meu pai e sua alegria por minha chegada. Eu vestido de bermudão e lama trazia a carga do rancho. A chuva caindo fininha, a tudo molhando. Ia para o igarapé tomar banho. Roupa limpa e enxuta, era tempo de procurar a rede e responder as perguntas de meu pai.
O silêncio da mata e o gotejar no telhado de palha. O vento frio passava pelo assoalho suspenso, feito de pachiúba e fugia pelas paredes e frestas também de pachiúba. Eu me embalava suavemente na rede e olhava as gotas que se formavam nas pontas das palhas do telhado e caiam em um ritmo lento o dia todinho.
Eu pegava meu gibi e dormia nas primeiras páginas...
Êh, meu pai... Que saudades heim???
...
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Fonte: Josué da Costa Silva - Coordenador do GepCultura