Publicado em: 18/04/2024 09:35:37
Da Terra à Mesa: Castanha da Amazônia
Por Rachel Dourado da Silva
A soberania alimentar é um conceito que se refere ao direito dos povos de controlar suas próprias políticas e estratégias alimentares, garantindo o acesso a alimentos saudáveis, culturalmente apropriados e produzidos de maneira sustentável. Tratar da soberania é essencial para garantir a segurança alimentar, o que envolve uma abordagem abrangente que discorre sobre diversos eixos. A soberania alimentar é um conceito interdisciplinar que envolve a integração de várias abordagens para garantir a segurança alimentar de forma sustentável, socialmente justa e culturalmente apropriada. Estes eixos podem variar em importância dependendo do contexto e das necessidades específicas de cada comunidade ou região, e o caso da castanha da amazônia deve ser debatido e gestado pelos amazônidas.
Em que aspecto a Castanha da Amazônia fortalece nutricionalmente os povos amazônidas e como essa inserção no mercado nacional e internacional potencializa ou fragiliza a soberania e segurança alimentar dos povos das florestas, dos amazônidas? A sociobioeconomia, um conceito que integra aspectos sociais, biológicos e econômicos, é fundamental para compreender esse processo. Por exemplo, a castanha da Amazônia é uma fonte rica de nutrientes essenciais, como proteínas, fibras e gorduras saudáveis, que desempenham um papel crucial na dieta tradicional dos povos da Amazônia. Além disso, o cultivo e a colheita da castanha promovem práticas agrícolas sustentáveis, que preservam a biodiversidade da floresta e garantem a continuidade desses na dieta alimentar para as gerações futuras. Através da sociobioeconomia, podemos entender como a produção e comercialização da Castanha da Amazônia não apenas contribuem para a nutrição das populações locais, mas também fortalecem sua autonomia econômica e sua conexão com o ambiente natural, mas antes da comercialização é importante garantir que a castanha não falte na mesa dos amazônidas, dos extrativistas que a coletam e comercializam por meio de atravessadores ou cooperativas.
Para os povos da Amazônia, a castanha é um presente da natureza, que frutifica sem esforço das pessoas, sendo necessário apenas manter a floresta em pé para que ela seja polinizada. No final de janeiro, já é possível adentrar e empilhar os ouriços com maior segurança. Cada amazônida conhece o valor da castanha, já tendo consumido seu leite preparado com alimentos entre outros. Os saberes tradicionais nos ensinam diversas técnicas, como o Manejo Florestal Sustentável, que permite a colheita de produtos florestais sem prejudicar a biodiversidade. Isso promove a integração da coleta sustentável de frutas, castanhas e plantas medicinais nas estratégias de subsistência, fortalecendo a relação socioambiental e cultural. A gastronomia com ênfase na castanha possui valor cultural que fortalece os conceitos e identidades dos povos da Amazônia. Paralelamente aos gargalos vivenciados em seus territórios, ocorre uma maior pressão mundial frente às mudanças climáticas, e essas comunidades enfrentam essas mudanças, perdendo produção e enfrentando cheias e secas antes não experimentadas, então como o consumo local da castanha pode fortalecer a manutenção do bioma amazônico? São questões que cabem um debruçamento profundo para não reproduzir velhos estigmas e práticas extrativistas predatórias, de seus elementos naturais e de seus saberes.
Os direitos dos povos originários e comunidades tradicionais é fundamental. Garantir o respeito aos direitos territoriais e culturais das comunidades indígenas, ribeirinhas, tradicionais, quilombolas e citadinos na Amazônia, entre outras que valorizam as florestas em pé. Cabe ressaltar que os amazônidas são protagonistas e são essas comunidades que devem mediar essas decisões relacionadas ao uso da terra e elementos naturais são essenciais para uma cadeia produtiva comprometida com seus povos e comunidades, com suas identidades, particularidades e direitos. Esses aspectos devem ser transmitidos para os não amazônidas, englobando distintos segmentos de respeito, o que traduz essa união comprometida em primeiro lugar com a garantia de seus direitos fundamentais.
A castanha da Amazônia representa não apenas um alimento nutritivo e uma fonte de sustento para os povos da região, mas também um símbolo da interdependência entre essas comunidades e seu ambiente natural. No entanto, à medida que a castanha se torna cada vez mais comercializada, surgem preocupações sobre os riscos associados à sua monetarização. Há o temor de que a priorização da produção para exportação possa resultar na diminuição do acesso da população local a esse alimento essencial, levando à perda de autonomia alimentar e à vulnerabilidade à flutuações no mercado global.
É crucial encontrar um equilíbrio entre a monetarização da castanha da Amazônia e a preservação de sua importância como alimento tradicional e fonte de sustento para as comunidades locais. Isso requer políticas e práticas que promovam a sustentabilidade ambiental, a equidade econômica e o respeito pelos direitos e culturas dos povos da Amazônia. Somente através de abordagens integradas que considerem tanto os benefícios quanto os riscos associados à comercialização da castanha, podemos garantir que ela continue a desempenhar um papel vital na vida das comunidades amazônicas, tanto agora quanto no futuro.
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Fonte: Rachel Dourado - pesquisadora GepCultura